Asma em Pediatria
- claurepires
- 19 de mar.
- 4 min de leitura

Introdução
A asma é a doença inflamatória crônica mais comum em crianças, caracterizada por hiperresponsividade brônquica e limitação ao fluxo aéreo, frequentemente reversível. Essa condição é um dos principais motivos de consultas pediátricas, internações hospitalares e absenteísmo escolar. Reconhecer os fatores de risco, realizar um diagnóstico preciso e implementar estratégias eficazes de manejo são essenciais para minimizar crises, evitar complicações e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Conceito e Definição
A asma é definida como uma doença inflamatória crônica das vias aéreas inferiores, marcada por episódios recorrentes de sibilância, dispneia, aperto no peito e tosse, especialmente à noite e no início da manhã. Esses sintomas resultam da interação entre inflamação, broncoconstrição e hiperresponsividade das vias aéreas.
Fatores de Risco, Agravantes e Atenuantes
1. Fatores de risco:
- História familiar de asma ou atopia (rinite alérgica, dermatite atópica).
- Exposição a alérgenos ambientais (ácaros, mofo, epitélios de animais).
- Fatores genéticos (herança poligênica).
2. Desencadeantes/Agravantes:
- Infecções respiratórias virais (principal desencadeante em crianças).
- Poluentes ambientais e fumo passivo.
- Exercício físico, emoções intensas e mudanças climáticas.
3. Fatores atenuantes:
- Aleitamento materno, que reduz infecções respiratórias virais e a sensibilização precoce a alérgenos.
- Controle ambiental adequado.
Fisiopatologia
O desenvolvimento e o curso da asma resultam de dois principais processos:
1. Inflamação crônica:
- Ocorre devido à ativação de linfócitos TH2, que liberam citocinas como IL-4 e IL-5, promovendo a sensibilização de mastócitos e eosinófilos.
- Esse processo causa edema da mucosa, produção excessiva de muco espesso e obstrução brônquica.
2. Broncoconstrição:
- Estreitamento agudo das vias aéreas em resposta a estímulos desencadeantes.
- Essa obstrução contribui para os sintomas característicos, como sibilância e dispneia.
Classificação
Crianças menores de 5 anos que sibilam
1. Sibilantes transitórios:
- Sibilância associada a infecções virais que desaparece até os 3 anos de idade.
2. Sibilantes não atópicos:
- Sibilância desencadeada por infecções virais respiratórias, que melhora com a idade escolar.
3. Sibilantes atópicos:
- Relacionados à sensibilização IgE-mediada, correspondendo aos casos de asma persistente.
Classificação de Gravidade (Atualizado - GINA 2024)
1. Asma intermitente:
- Sintomas ≤2 vezes por semana.
- Sem limitação de atividades.
- Exacerbações leves e infrequentes.
2. Asma persistente leve:
- Sintomas >2 vezes por semana, mas não diários.
- Pequena limitação de atividades.
3. Asma persistente moderada:
- Sintomas diários.
- Uso de broncodilatadores quase diário.
- Limitação evidente de atividades.
4. Asma persistente grave:
- Sintomas contínuos.
- Limitação significativa de atividades.
- Exacerbações frequentes.
Manifestações Clínicas
Os sintomas da asma incluem:
1. Episódios recorrentes de sibilância:
- Sintoma característico, associado à obstrução brônquica.
2. Tosse crônica:
- Especialmente noturna ou desencadeada por exercício físico.
3. Dispneia e aperto no peito:
- Frequentemente descritos em crises moderadas e graves.
Esses sintomas apresentam variabilidade sazonal e melhora com broncodilatadores ou corticosteroides.
Diagnóstico
O diagnóstico baseia-se na história clínica, exame físico e exames complementares:
1. Espirometria:
- Considerado o exame de escolha para estabelecer o diagnóstico, determinar o grau de obstrução e avaliar a resposta ao tratamento.
- Teste de reversibilidade positivo confirma asma.
2. Outros exames funcionais:
- Pico de fluxo expiratório (Peak Flow): útil na monitorização.
- Testes cutâneos e IgE sérica para identificação de alérgenos.
3. Critérios diagnósticos em menores de 5 anos:
- Boa resposta a beta-agonistas.
- Exclusão de diagnósticos diferenciais.
Tratamento
Tratamento da crise asmática
1. Broncodilatadores beta-2 agonistas de curta duração (SABA):
- Salbutamol e fenoterol são os agentes de escolha.
- Podem ser administrados via aerossol dosimetrado ou nebulização.
2. Corticosteroides sistêmicos:
- Prednisolona é preferida pela apresentação em solução oral.
- Hidrocortisona intravenosa é usada em crises graves.
3. Oxigenoterapia:
- Indicada para saturação de oxigênio ≤92%.
4. Adjuvantes:
- Brometo de ipratrópio para crises graves.
Tratamento de manutenção (Atualizado - GINA 2024)
1. Corticosteroides inalatórios (ICS):
- Beclometasona é amplamente utilizada e disponibilizada pelo SUS.
- Deve ser associada a espaçadores para maior eficácia.
2. Beta-agonistas de longa duração (LABA):
- Salmeterol e formoterol, indicados para crianças acima de 4 anos.
3. Terapias Biológicas:
- Omalizumabe (anti-IgE) e Dupilumabe (anti-IL4/IL13), indicados para asma grave.
4. Combinação ICS-Formoterol como Resgate:
- Reduz exacerbamentos em asma persistente moderada a grave.
Prevenção e Controle
1. Educação:
- Plano escrito de automanejo para pacientes e cuidadores.
- Reconhecimento de sinais precoces de exacerbação.
2. Controle ambiental:
- Redução de alérgenos domiciliares.
- Evitar fumo passivo e poluentes.
3. Vacinação:
- Vacinas pneumocócicas e contra influenza são essenciais.
Pontos Importantes
1. A asma é uma doença inflamatória crônica com alta prevalência em pediatria.
2. Sibilância, tosse noturna e resposta a broncodilatadores são indicadores importantes para o diagnóstico.
3. Espirometria é o exame padrão para diagnóstico em crianças maiores de 5 anos.
4. Crises asmáticas graves requerem manejo imediato com SABA, corticosteroides e, quando necessário, oxigenoterapia.
5. O tratamento preventivo visa controlar sintomas, evitar crises e melhorar a qualidade de vida.
6. Terapias biológicas e combinações ICS-formoterol são avanços recentes no manejo.
7. Educação, controle ambiental e vacinação são pilares no manejo da asma.
Referências
1. Global Initiative for Asthma (GINA). Relatório 2024. Disponível em: [https://ginasthma.org](https://ginasthma.org).
2. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Recomendações para manejo da asma em pediatria. J. Bras. Pneumol. 2020; 46(1).
3. Diretrizes da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia e SBP para asma no pré-escolar. Arq Asma Alerg Imunol. 2018;2(2):163-208.
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