Cálculos Biliares: tipos, fisiopatologia, diagnóstico, manejo e tratamento
- claurepires
- 19 de mar.
- 3 min de leitura

Introdução
Os cálculos biliares, ou colelitíase, são formados pela precipitação de componentes da bile na vesícula biliar. A condição pode ser assintomática ou apresentar-se com complicações, como dor biliar ou inflamações mais graves. Neste capítulo, discutiremos detalhadamente os tipos de cálculos biliares, sua fisiopatologia, diagnóstico, manejo e tratamento, conforme as diretrizes mais recentes e atualizadas.
Tipos de Cálculo Biliar e Prevalência
Os cálculos biliares podem ser classificados em três tipos principais:
1. Cálculos de Colesterol (75% dos casos): São os mais comuns, resultantes do desequilíbrio entre a produção hepática de colesterol e a capacidade da bile de dissolvê-lo.
2. Cálculos de Pigmentos Negros (20% dos casos): Relacionados à hemólise crônica, como em doenças hemolíticas (anemia falciforme, esferocitose hereditária).
3. Cálculos de Pigmentos Marrons (5% dos casos): Associados a infecções biliares crônicas ou obstruções.
Fatores de Risco para Colelitíase
Os principais fatores de risco incluem:
- Idade avançada
- Sexo feminino
- Multiparidade
- Obesidade e síndrome metabólica
- Uso de medicamentos como contraceptivos orais e ceftriaxona
- Doenças do íleo terminal (como Doença de Crohn)
Outros fatores incluem nutrição parenteral total, perda rápida de peso e histórico familiar.
Manifestações Clínicas
A cólica biliar é a manifestação mais comum, ocorrendo em aproximadamente 90% dos pacientes sintomáticos. É caracterizada por dor intensa no hipocôndrio direito ou epigástrio, frequentemente associada à ingestão de alimentos gordurosos, irradiando para o dorso ou escápula direita.
História Natural dos Cálculos Assintomáticos
Pacientes com cálculos biliares assintomáticos apresentam um risco de desenvolver sintomas de 2% ao ano nos primeiros cinco anos após o diagnóstico. Após esse período, o risco diminui, e muitos pacientes permanecem sem sintomas por toda a vida. No entanto, a colecistectomia é recomendada para pacientes sintomáticos devido ao risco de complicações.
Complicações da Colelitíase Sintomática
As principais complicações incluem:
- Colecistite Aguda: Inflamação da vesícula biliar.
- Pancreatite Aguda Biliar: Inflamação do pâncreas devido à obstrução do ducto biliar comum.
- Colédocolitíase: Presença de cálculos no ducto biliar comum.
- Síndrome de Mirizzi: Compressão do ducto biliar comum por um cálculo impactado na vesícula.
- Íleo Biliar: Obstrução intestinal causada por um cálculo migrado.
Diagnóstico
O diagnóstico de colelitíase começa com uma avaliação clínica cuidadosa e exames de imagem. A ultrassonografia é o método de escolha inicial, com sensibilidade de 95% para cálculos maiores que 2 mm. Achados típicos incluem estruturas hiperecogênicas móveis com sombra acústica posterior.
Para casos mais complexos ou quando há suspeita de complicações, exames adicionais, como a tomografia computadorizada (TC), colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM) e ecoendoscopia, podem ser utilizados.
Tratamento dos Cálculos Biliares
1. Pacientes Assintomáticos: Em geral, a colecistectomia não é indicada. Observa-se que menos de 20% dos pacientes desenvolvem sintomas em 15 anos.
2. Pacientes Sintomáticos: A colecistectomia eletiva é recomendada após a resolução da cólica biliar. O tratamento cirúrgico preferido é a colecistectomia videolaparoscópica.
Cólica Biliar
A cólica biliar é causada pela obstrução transitória do ducto cístico, levando a dor intensa em hipocôndrio direito ou epigástrio, irradiada para o dorso. Analgésicos (anti-inflamatórios não esteroides – AINES) e antiespasmódicos são recomendados para controle da dor.
Complicações
1. Colecistite Aguda: Caracterizada por dor intensa, febre e leucocitose. O tratamento envolve internação hospitalar, jejum, analgesia, reposição volêmica e, em casos moderados a graves, antibioticoterapia. A colecistectomia precoce é recomendada.
2. Colédocolitíase: Apresenta-se com dor biliar seguida de icterícia e síndrome colestática (colúria, acolia fecal, prurido). O diagnóstico é confirmado por ultrassonografia e, eventualmente, CPRE. O tratamento envolve a extração dos cálculos via CPRE seguida de colecistectomia.
3. Colangite Aguda: Caracterizada pela tríade de Charcot (dor abdominal, icterícia e febre). É uma emergência e requer antibióticos e drenagem biliar por CPRE.
Tratamento Cirúrgico
A colecistectomia videolaparoscópica é o tratamento padrão-ouro para pacientes com colelitíase sintomática. A cirurgia deve ser realizada precocemente em casos de colecistite aguda para evitar complicações.
Pontos Importantes
- Cálculos de colesterol são os mais prevalentes, representando 75% dos casos.
- Ultrassonografia é o exame de escolha inicial para diagnóstico.
- Colelitíase assintomática geralmente não requer intervenção cirúrgica.
- A colecistectomia é indicada para pacientes sintomáticos, com complicações ou com fatores de risco específicos.
- As complicações mais comuns incluem colecistite aguda, colédocolitíase e colangite.
Referências
1. European Association for the Study of the Liver (EASL) Guidelines on the management of gallstones. J Hepatol. 2016.
2. American College of Gastroenterology (ACG) Clinical Guidelines: Management of Acute Cholecystitis. Am J Gastroenterol. 2020.
3. Sociedade Brasileira de Hepatologia – Diretrizes para manejo da Colelitíase. Arq Gastroenterol. 2021.
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