Doença Arterial Crônica de Membros Inferiores (DAOP)
- claurepires
- 18 de mar.
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Introdução
Doença Arterial Crônica de Membros Inferiores (DACMI), também conhecida como Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP), é uma condição resultante do estreitamento e endurecimento das artérias periféricas, principalmente devido à aterosclerose. Esse processo obstrutivo provoca uma diminuição do fluxo sanguíneo, resultando em isquemia dos tecidos irrigados pela artéria comprometida. A DAOP afeta milhões de pessoas em todo o mundo e é uma causa significativa de morbidade, especialmente em populações idosas e pacientes com fatores de risco cardiovascular.
Fisiopatologia da Aterosclerose
A aterosclerose é um processo inflamatório crônico e progressivo que afeta as artérias de médio e grande calibre. Decorre de uma resposta inflamatória a lesões endoteliais, que leva ao acúmulo de lipídios, células inflamatórias e tecido fibroso, formando placas de ateroma. Com o tempo, essas placas estreitam a luz do vaso, dificultando o fluxo sanguíneo e promovendo a isquemia tecidual, especialmente durante esforços físicos.
Fatores de Risco para DAOP
Os principais fatores de risco para o desenvolvimento da DAOP incluem:
- Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS): Favorece a lesão endotelial e a progressão da aterosclerose.
- Diabetes Mellitus (DM): Aumenta o risco de aterosclerose acelerada, especialmente em microvasculatura.
- Tabagismo: Multiplica o risco de desenvolvimento da DAOP por causar lesões endoteliais diretas.
- Histórico de Doença Cardiovascular: A presença de doenças como infarto e AVC eleva o risco de complicações isquêmicas nos membros.
- Idade Avançada: A progressão da aterosclerose tende a ser mais evidente em populações idosas.
- Dislipidemia: O acúmulo de colesterol e triglicerídeos no sangue é um dos fatores centrais na formação das placas de ateroma.
Quadro Clínico
A apresentação clínica da DAOP varia de acordo com a gravidade da isquemia:
- Assintomáticos: Muitos pacientes têm obstruções que não resultam em sintomas evidentes.
- Claudicação Intermitente: Caracteriza-se por dor nos músculos dos membros inferiores durante a caminhada, que melhora com o repouso. É considerada patognomônica da isquemia muscular.
- Dor Isquêmica de Repouso: Indica um quadro mais avançado, onde o fluxo sanguíneo não é suficiente mesmo em repouso.
- Lesões Tróficas: Podem evoluir para úlceras, gangrenas e necroses, geralmente em pacientes com isquemia crítica.
Diagnóstico
O diagnóstico de DAOP envolve uma combinação de avaliação clínica e exames de imagem:
- EcoDoppler (Duplex Scan): Primeiro exame para avaliar fluxo sanguíneo e presença de estenoses.
- Índice Tornozelo-Braquial (ITB): Método simples e não invasivo para avaliar a gravidade da obstrução.
- Angiotomografia e Angiorressonância Magnética: Oferecem imagens detalhadas das artérias, sendo úteis para planejamento terapêutico.
- Arteriografia: Padrão-ouro para diagnóstico e planejamento cirúrgico. Indicada para pacientes candidatos à revascularização.
Classificações de DAOP
A DAOP pode ser classificada segundo os sistemas de Fontaine e Rutherford, que auxiliam no estadiamento e definição do tratamento.
- Classificação de Fontaine:
- Estágio I: Assintomático.
- Estágio IIa: Claudicação leve.
- Estágio IIb: Claudicação moderada a grave.
- Estágio III: Dor em repouso.
- Estágio IV: Ulcerações e gangrena.
- Classificação de Rutherford:
- Categoria 0: Assintomático.
- Categoria 1: Claudicação leve.
- Categoria 2: Claudicação moderada.
- Categoria 3: Claudicação grave.
- Categoria 4: Dor isquêmica em repouso.
- Categoria 5: Isquemia com úlceras menores.
- Categoria 6: Isquemia com úlceras extensas ou gangrena.
Tratamento
O tratamento da DAOP varia conforme a gravidade da doença e os sintomas apresentados pelo paciente.
Tratamento Clínico e Farmacológico
- Estatinas: Reduzem a progressão da aterosclerose e os eventos cardiovasculares.
- Antiagregantes Plaquetários: Incluem AAS e Clopidogrel, que reduzem o risco de eventos trombóticos.
- Cilostazol: Fármaco de escolha para melhorar a claudicação intermitente.
- Pentoxifilina: Útil em alguns casos de claudicação, embora tenha eficácia menor em comparação ao cilostazol.
Tratamento Cirúrgico
Indicado para pacientes com:
- Claudicação incapacitante.
- Dor em repouso persistente.
- Lesões tróficas com risco de perda do membro.
Opções cirúrgicas incluem:
- Angioplastia Translúminal Percutânea (ATP): Técnica endovascular que utiliza balões e stents para reverter a obstrução.
- Endarterectomia: Retirada da placa aterosclerótica das artérias.
- Revascularização em Ponte (Bypass): Utiliza enxertos de veia safena ou próteses sintéticas para desviar o fluxo de sangue ao redor da obstrução.
Fibrinólise
Indicada para tromboses arteriais agudas, desde que não haja risco iminente de perda do membro. A administração de fibrinolíticos por cateter é mais segura e eficaz do que a infusão sistêmica.
Complicações das Intervenções
- Infecções: Podem ocorrer na área cirúrgica, principalmente em pacientes com múltiplas comorbidades.
- Trombose do Enxerto: Pode comprometer a perviedade do bypass.
- Complicações Hemorrágicas: Relacionadas ao uso de anticoagulantes e à própria intervenção.
Atualizações das Diretrizes
As diretrizes atuais enfatizam o uso de sistemas de estadiamento como WIfI (Wound, Ischemia, and Foot Infection) e GLASS para guiar as decisões de tratamento e melhorar os resultados clínicos. A escolha entre angioplastia e bypass depende do perfil anatômico e das características do paciente.
Pontos Importantes
- A DAOP é uma manifestação da aterosclerose, com risco elevado de complicações cardiovasculares.
- A claudicação intermitente é o sintoma mais comum, e a dor em repouso indica isquemia mais severa.
- O tratamento farmacológico é importante para todos os pacientes, independentemente do estágio da doença.
- A arteriografia é o padrão-ouro para planejamento cirúrgico.
- A angioplastia e a cirurgia de bypass são opções de revascularização em casos avançados.
Referências
1. ESVS Guidelines on the Management of Chronic Limb-Threatening Ischemia, 2019.
2. 2017 ESC Guidelines on the Diagnosis and Treatment of Peripheral Arterial Diseases.
3. Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) – Diretrizes para tratamento de doenças arteriais periféricas.
4. Rutherford RB. Vascular Surgery, 8th Edition.