Estados Edematosos: definição, classificação e tratamento
- claurepires
- 19 de mar.
- 3 min de leitura

Definição e Classificação
Definição de Edema
O edema é definido como o acúmulo anormal de fluidos no espaço intersticial. A exceção é o edema cerebral, que corresponde ao acúmulo intracelular de líquidos.
Fisiopatologia do Edema
O desenvolvimento do edema envolve duas etapas principais:
1. Alteração na hemodinâmica capilar, favorecendo o movimento de líquido do intravascular para o interstício.
2. Retenção renal de sódio e água oriundos da dieta.
Distribuição da Água Corporal
A água corporal é distribuída em compartimentos intracelulares, intersticiais e extracelulares. O endotélio separa o intravascular do interstício, e as membranas celulares dividem o intracelular do interstício.
Alteração Volumétrica Clinicamente Importante
Uma expansão volumétrica do interstício passa a ser clinicamente significativa quando atinge cerca de 3 litros.
Fisiologia e Mecanismos
Forças de Starling
O fluxo entre o meio intravascular e o intersticial é regido pelas forças de Starling, que dependem da permeabilidade da membrana endotelial (Kf), da diferença entre a pressão hidrostática capilar e intersticial (Pc – Pi), e da diferença entre a pressão oncótica capilar e intersticial (ᴨc - ᴨi).
Pressão Oncótica e Albumina
A principal proteína plasmática responsável pela pressão oncótica do plasma é a albumina.
Drenagem Linfática
A drenagem linfática impede a formação de edema em condições normais, ao remover o excesso de líquido intersticial.
Causas de Edema
Aumento da Permeabilidade Capilar:
Causas comuns incluem inflamação/sepse, reações alérgicas, toxinas, queimaduras e traumas.
Aumento da Pressão Hidrostática Venocapilar:
Frequentemente causado por insuficiência cardíaca congestiva (ICC), hipertensão porta e insuficiência venosa crônica.
Redução da Pressão Oncótica Capilar:
Desnutrição, síndromes disabsortivas, insuficiência hepática, síndrome nefrótica e doenças catabólicas são causas principais.
Medicamentos Associados ao Edema:
Incluem AINEs, vasodilatadores (hidralazina, minoxidil), bloqueadores dos canais de cálcio (nifedipina, amlodipina), hormônios (corticoides, estrogênio) e imunossupressores (ciclosporina).
Diagnóstico e Classificação
Diagnóstico Clínico do Edema:
O diagnóstico clínico envolve a identificação do sinal do cacifo (Godet), aumento do peso corporal, intumescimento local e arredondamento das formas.
Classificação Clínica:
O edema pode ser classificado como mole (com cacifo) ou duro. Exemplos de edema mole incluem ICC, síndrome nefrótica e insuficiência hepática, enquanto edema duro pode ser visto em obstrução linfática, obstrução venosa crônica e mixedema.
Extensão do Edema:
O edema pode ser generalizado, como na ICC e síndrome nefrótica, ou localizado, como na obstrução linfática e venosa crônica.
Tratamento
Princípios Gerais do Tratamento:
1. Tratamento da doença de base.
2. Uso de diuréticos (principalmente de alça).
3. Restrição de sódio e água da dieta.
Controle da Diureticoterapia:
A avaliação periódica do peso corporal, pressão arterial e exames laboratoriais é essencial no manejo do edema.
Edema em Condições Específicas
Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC):
O edema na ICC começa nos tornozelos e pode ascender. Está associado a sinais de congestão circulatória, como dispneia progressiva, turgência jugular patológica, hepatomegalia, tosse noturna e estertores pulmonares.
Síndrome Nefrótica:
Caracteriza-se por edema mais evidente na face e pálpebras, especialmente pela manhã. É resultado de um processo inflamatório glomerular que leva à retenção de sódio e água.
Hepatopatia Cirrótica:
A principal apresentação é a ascite, resultado da hipertensão porta. O edema é predominantemente nos membros inferiores e associado a estigmas da cirrose hepática.
Pontos Importantes
- Forças de Starling são cruciais para entender o fluxo de líquidos entre os compartimentos.
- Albumina é a principal proteína plasmática que mantém a pressão oncótica.
- Drenagem linfática é vital para prevenir o edema.
- Medicamentos podem causar ou agravar estados edematosos.
- Tratamento inclui manejo da doença de base, uso de diuréticos e restrição de sódio e água.
- Edema na ICC é caracteristicamente vespertino, frio e indolor.
- Síndrome Nefrótica e Hepatopatia Cirrótica têm apresentações clínicas distintas e requerem abordagens terapêuticas específicas.
Referências
1. UpToDate
2. Nefrologia Clínica – Richard J Johnson
3. "Cardiorenal Syndrome: Classification, Pathophysiology, Diagnosis, and Treatment Strategies - A Scientific Statement From the American Heart Association"
4. Simonetto, D.A.; Gines, P.; Kamath, P.S. "Hepatorenal syndrome: pathophysiology, diagnosis, and management." BMJ, September 2020; 370: m2687. Disponível em: [Link](http://dx.doi.org/10.1136/bmj.m2687)
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