O acréscimo de lenvatinibe e pembrolizumabe à quimioembolização transarterial levou a uma melhora significativa da sobrevida livre de progressão (SLP) da doença em pacientes com carcinoma hepatocelular em estágio intermediário em comparação à quimioembolização transarterial junto com placebo, segundo os resultados da primeira análise interina do ensaio clínico LEAP-012 de fase 3.
Os resultados, apresentados no Congresso da European Society for Medical Oncology (ESMO 2024), podem representar uma mudança na prática do tratamento do carcinoma hepatocelular em estágio intermediário, comentou o líder do estudo, Dr. Josep Llovet, Ph.D., médico vinculado ao Tisch Cancer Institute da Icahn School of Medicine at Mount Sinai, nos Estados Unidos.
Embora os resultados de sobrevida global do estudo LEAP-012 ainda sejam preliminares, uma "tendência favorável" na análise atual sugere que o novo tratamento combinado pode melhorar a sobrevida livre de doença e pode se tornar "uma nova opção" para os pacientes com carcinoma hepatocelular em estágio intermediário, disse o Dr. Josep durante um simpósio sobre ensaios clínicos que modificam a conduta médica.
Nos últimos 20 anos, a opção terapêutica convencional desse grupo de pacientes tem sido apenas a quimioembolização transarterial, e os desfechos para os pacientes continuam ruins, explicou Dr. Josep. Os últimos ensaios clínicos randomizados comprovaram uma mediana de SLP de cerca de sete a oito meses e uma mediana de sobrevida global de cerca de 26 a 30 meses com a quimioembolização transarterial.
O acréscimo de lenvatinibe e de pembrolizumabe tem o potencial de melhorar os desfechos para os pacientes. Na doença avançada, o lenvatinibe junto com o pembrolizumabe levou a uma melhora de dois meses da sobrevida global em comparação ao lenvatinibe isolado (21,1 meses versus 19 meses; razão de risco [RR] = 0,84; p = 0,023)
O atual ensaio clínico LEAP-012 designou aleatoriamente 480 pacientes (média de idade de 65 anos) com carcinoma hepatocelular em estágio intermediário sem possibilidade de cura para quimioembolização transarterial + associação de lenvatinibe e pembrolizumabe (n = 237) ou quimioembolização transarterial + placebo (n = 243) por até dois anos. O desfecho primário duplo foi a SLP e a sobrevida global.
A taxa de interrupção do tratamento foi alta nos dois braços: 78% (n = 185) no braço do tratamento e 89% (n = 215) no braço do placebo; o principal motivo foi a progressão da doença.
As características ao início do estudo foram bem equilibradas entre os grupos em geral, embora mais de 80% dos pacientes fossem homens.
A principal etiologia da doença foi viral, particularmente por infecção por vírus das hepatites B e C, seguida pela hepatite alcoólica, disse o Dr. Josep. Em termos de estágio do tumor, 30% dos pacientes estavam no estágio A (mais inicial) conforme o Barcelona Clinic Liver Cancer (BCLC) Staging System, e outros 60% estavam no estágio B. Essa primeira análise interina representa a análise final da SLP.
Os pacientes que receberam o tratamento associado tiveram uma SLP significativamente mais longa, com uma mediana de 14,6 meses vs. 10 meses no braço de controle (RR = 0,66; p = 0,0002) em uma mediana do tempo desde a randomização até o corte de dados de 25,6 meses. Em 18 meses, 39,1% dos pacientes no grupo da associação permaneceram livres de progressão da doença, em comparação a 27,9% no grupo de quimioembolização transarterial isolada.
"Essa profunda diferença da SLP também foi observada nos subgrupos pré-especificados", acrescentou Dr. Josep.
Os desfechos da sobrevida global mostraram uma tendência a favor do grupo do tratamento. A probabilidade de estar vivo em dois anos foi de 74,6% no grupo da associação vs. 68,6% no grupo somente da quimioembolização transarterial (RR = 0,80; p = 0,0867).
A taxa de resposta objetiva RECIST, um desfecho secundário, foi de 46,8% no grupo da associação de medicamentos, em comparação a 33,3% no grupo da quimioembolização transarterial isolada. Ao todo, 3,4% dos pacientes no braço da associação tiveram respostas completas vs. 4,1% no braço de quimioembolização transarterial isolada, e 43,5 vs. 29,2%, respectivamente, tiveram respostas parciais.
A duração média da resposta para o grupo de combinação foi cerca de dois meses mais longa — 12,6 meses vs. 10,7 meses — e o controle da doença foi maior no grupo da associação — 89,5% vs. 81,5%.
A resposta objetiva RECIST modificada foi de 71,3% no grupo da associação de medicamentos vs. 49,8% no grupo da quimioembolização transarterial isolada, com 56,1% de respostas completas vs. 33,7%, respectivamente, e 15,2% de resposta parcial vs. 16%, respectivamente. Nesse caso, a mediana da duração da resposta foi de 14,6 vs. 12,5 meses, respectivamente, e do controle da doença foi de 90,3% vs. 81,1%.
Os eventos adversos de grau 3 ou 4 relacionados com o tratamento foram maiores no grupo da combinação de medicamentos — 71,3% vs. 31,1% no grupo da quimioembolização transarterial isolada. Os eventos adversos levaram à interrupção do tratamento em 8,4% dos pacientes no grupo da combinação terapêutica e em 1,2% no grupo da quimioembolização transarterial isolada. No entanto, não foram identificadas novas preocupações de segurança.
Apesar de os dados de sobrevida global serem incipientes, a Dra. Angela Lamarca, Ph.D., médica convidada para o debate sobre o estudo, disse que ainda está "bastante otimista" com os resultados.
"Se eu aceitaria esse tratamento como um novo padrão na doença em estágio intermediário? Minha opinião pessoal é que, provavelmente sim, eu recomendaria aos meus pacientes um tratamento que trouxesse benefícios de SLP, mesmo que eu não tenha uma confirmação completa do benefício na sobrevida global", disse a Dra. Angela, que é afiliada à UAM Fundación Jiménez Díaz do Hospital Universitário Ramón y Cajal, na Espanha.
Melhorar os desfechos do carcinoma hepatocelular em estágio intermediário "continua sendo uma grande demanda não atendida", acrescentou a médica, citando os resultados igualmente promissores do ensaio clínico EMERALD-1, apresentado no início deste ano na reunião da American Society of Clinical Oncology. Esse ensaio clínico mostrou aumento da SLP no carcinoma hepatocelular em estágio intermediário com uma combinação de durvalumabe e bevacizumabe.
"A boa notícia é que, em nove meses, tivemos dois ensaios clínicos sobre o carcinoma hepatocelular descrevendo um resultado positivo de SLP nesses casos, o que é uma notícia muito boa", disse a Dra. Angela.
Embora reconheça as armadilhas de fazer comparações entre ensaios clínicos, a médica destacou a semelhança dos benefícios em termos de SLP observados nos dois ensaios clínicos recentes — aumentos médios em relação aos controles de 4,6 meses no LEAP-012 e de 6,8 meses no EMERALD-1.
"Concordo com os autores que essa pode ser uma nova opção os para pacientes com carcinoma hepatocelular em estágio intermediário", concluiu Dra. Angela.
O financiamento do estudo veio das empresas Merck Sharp & Dohme LLC eEisai Inc. O Dr. Josep Llovet informou atuar como pesquisador responsável para as empresas Eisai Inc, Nutley, Merck Sharp & Dohme LLC, entre outros conflitos de interesse. A Dra. Angela Lamarca informou ter recebido honorários como palestrante das empresas Merck, Eisai, Pfizer, Ipsen, Incyte, AAA/Novartis, AstraZeneca, Roche e outras; honorários de assessoria e consultoria das empresas Eisai, Nutricia, Roche, Servier, Boston Scientific e outras; e financiamento institucional por atuar como pesquisadora responsável para as empresas Merck, Boehringer Ingelheim, Servier, AstraZeneca e outras.
Este conteúdo foi traduzido do Medscape