Parasitoses Intestinais: problema de saúde pública global
- claurepires
- 19 de mar.
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Introdução
As parasitoses intestinais são um problema de saúde pública global, afetando milhões de pessoas em diversas regiões do mundo, principalmente em áreas com condições sanitárias inadequadas. Elas são causadas por diferentes tipos de parasitas, que incluem protozoários e helmintos. Os sintomas variam de quadros assintomáticos a graves, com comprometimento significativo do estado nutricional e imunológico dos indivíduos acometidos.
Estimativa Global
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que existam, globalmente, aproximadamente 1 bilhão de indivíduos infectados por Ascaris lumbricoides, 900 milhões por ancilostomídeos, 400 milhões por Entamoeba histolytica, e 200 milhões por Giardia lamblia.
Diagnóstico das Parasitoses Intestinais
O diagnóstico das parasitoses intestinais é feito por meio de uma anamnese detalhada, que inclui hábitos, exposição aos parasitas e eliminação de vermes, complementada por exame físico. Entre os exames laboratoriais, o hemograma pode revelar anemia hipocrômica e microcítica, além de eosinofilia. A confirmação diagnóstica é feita por coproscopia, que identifica parasitas, ovos ou larvas nas fezes.
Giardíase
Agente Etiológico
A giardíase é causada pelo protozoário Giardia duodenalis (sinônimo G. lamblia e G. intestinalis). A transmissão ocorre pelo consumo de água ou alimentos contaminados com cistos.
Manifestações Clínicas
Cerca de 50% dos indivíduos infectados são sintomáticos, com diarreia aquosa, volumosa e sem sangue, associada a dor abdominal. Em crianças, o quadro pode evoluir para diarreia crônica e síndrome de má absorção.
Diagnóstico
A giardíase é diagnosticada por exame de fezes, sendo necessária a análise de três amostras para garantir maior precisão, pois a eliminação do protozoário nas fezes pode ser intermitente.
Tratamento
Segundo as diretrizes atualizadas, o tratamento de escolha é com derivados imidazólicos. O tinidazol é utilizado em dose única de 2g via oral para adultos, enquanto crianças recebem 50mg/kg. O metronidazol é uma alternativa, com dose de 250mg três vezes ao dia por 7 a 10 dias.
Controle de Cura
O controle da cura é realizado com exames de fezes repetidos após 7, 14 e 21 dias do tratamento.
Criptosporidíase
Agente Etiológico
A criptosporidíase é causada pelo parasita Cryptosporidium spp., com prevalência maior em pacientes imunocomprometidos, como aqueles com HIV.
Manifestações Clínicas
Caracteriza-se por diarreia autolimitada em imunocompetentes, mas pode ser crônica em imunodeprimidos, com diarreia coleriforme de grande volume.
Diagnóstico
É feito por meio da técnica de Ritchie e coloração de safranina ou imunofluorescência com anticorpos monoclonais.
Tratamento
O tratamento recomendado inclui espiramicina, paromomicina e nitazoxanida, esta última especialmente eficaz em pacientes HIV positivos com contagem de linfócitos CD4+ >200/mm³.
Amebíase
Agente Etiológico
A amebíase é causada por Entamoeba histolytica, sendo uma das principais causas de abscessos hepáticos amebianos e colite amebiana.
Formas Clínicas
A amebíase pode se manifestar de forma assintomática, como colite não disentérica, colite disentérica ou com complicações extraintestinais, como abscesso hepático.
Diagnóstico
O diagnóstico é realizado por exame de fezes e, nos casos de abscessos hepáticos, pode ser necessário ultrassom e aspiração.
Tratamento
O tratamento de primeira linha inclui o uso de metronidazol e tinidazol, com posologia de acordo com a gravidade da infecção.
Outras Parasitoses
Estrongiloidíase
A estrongiloidíase é causada por Strongyloides stercoralis e pode causar manifestações graves em pacientes imunocomprometidos. O tratamento inclui ivermectina em dose única de 200mcg/kg.
Ciclosporidíase
Causada por Cyclospora cayetanensis, a ciclosporidíase é tratada com sulfametoxazol-trimetoprima, com ajustes de dose para pacientes imunocomprometidos.
Pontos Importantes
- Giardíase: O diagnóstico pode exigir três amostras de fezes e o tratamento envolve tinidazol ou metronidazol.
- Criptosporidíase: Prevalente em imunossuprimidos, com diarreia volumosa, sendo a nitazoxanida eficaz quando o sistema imune está preservado.
- Amebíase: Pode causar abscessos hepáticos, sendo tratada com metronidazol, além de drenagem cirúrgica em alguns casos.
Referências
- Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasília, 2024.
- World Health Organization. Intestinal Parasite Infections. Geneva, 2023.
- Focaccia R. Tratado de Infectologia, 5ª ed. São Paulo: Atheneu, 2024.