1 - Qual a epidemiologia do transtorno de ansiedade generalizada?
O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) tem alta prevalência, atingindo anualmente cerca de 3 a 8% da população mundial e, dentre os transtornos de ansiedade, é o mais comum (50%). Entre os sexos, atinge especialmente o feminino em uma proporção de 2:1. Em geral, começa no fim da adolescência ou no início da vida adulta.
2 - Qual a etiologia do TAG?
Ocorre uma associação entre fatores biológicos e fatores psicossociais. Dentre os fatores biológicos, são importantes as alterações gabaérgicas, alterações no sistema límbico, no córtex pré-frontal e, especialmente, as serotoninérgicas. Fatores psicossociais atuam tanto na área cognitivo-comportamental quanto na área psicanalítica.
3 - Quais as principais características clínicas da TAG?
Ansiedade e preocupação excessiva por pelo menos 6 meses, dificuldade em controlar a situação, inquietação, fatigabilidade, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular, alterações do sono, taquicardia, sudorese, hiperatividade autonômica, sintomas orgânicos.
4 - Qual o curso e prognóstico da TAG?
Por definição, é um transtorno crônico que pode durar a vida toda, o que ocorre especialmente porque há atuação da estrutura da personalidade do paciente que auxilia na cronificação. Alguns dados indicam que acontecimentos da vida estão associados com o início do TAG, como a ocorrência de vários acontecimentos negativos. Além disso, cerca de 25% evoluem com crises de pânico, as quais o transtorno ansioso até então classificado como ansiedade generalizada é substituído ao diagnóstico de transtorno de pânico.
5 - Como é o tratamento do TAG?
É realizado através da associação entre tratamento medicamentoso e psicoterapia.
Tratamento medicamentoso: são indicados os antidepressivos e os benzodiazepínicos. A prescrição de psicofármacos sempre é individualizada de acordo com o quadro do paciente e a base orgânica da doença em questão. Como na TAG há intensa participação serotoninérgica, uma boa classe de antidepressivo indicada é a de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS como a fluoxetina e a paroxetina, por exemplo). Além disso, como os antidepressivos não têm ação imediata, pode ser prescrito benzodiazepínico para controle inicial do quadro ansioso do paciente. Contudo, deve ser utilizado por pouco tempo devido a tolerância e dependência que essa classe medicamentosa gera. A partir do momento em que o ISRS começa a exercer seu efeito serotoninérgico, deve-se avaliar a retirada gradual do benzodiazepínico. É importante avaliar a idade do paciente, exemplo: em idosos, se necessária a prescrição de benzodiazepínico é ideal que este apresente meia vida curta, como o alprazolam.
Psicoterapia: a terapia cognitivo-comportamental tem boa participação no tratamento da TAG, permite que o paciente aprenda a lidar com as dificuldades e os sintomas que a ansiedade traz no dia a dia.
6 - Qual a epidemiologia do transtorno de estresse pós-traumático?
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) atinge de 1 a 3% da população e principalmente o sexo feminino. Embora possa aparecer em qualquer idade, é mais prevalente em adultos jovens porque estes se expõem mais a situações precipitantes.
7 - Qual a etiologia do TEPT?
A etiologia está relacionada à associação entre fatores estressores, psicodinâmicos e biológicos. O fator estressor é o principal no desenvolvimento do TEPT, pois gera uma resposta de medo intenso ou de terror ao evento, mas isoladamente não é suficiente para causar esse transtorno. Quanto ao fator psicodinâmico, existe a hipótese de que o trauma reativa um conflito psicológico, especialmente com defesas de negação, minimização, cisão, identificação projetiva, dissociação e culpa. Por fim, estudos relacionam o TEPT a alterações no sistema noradrenérgico, opioide, fator liberador de corticotrofina e no eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal.
8 - Qual a sintomatologia do TEPT?
Os sintomas podem ser agudos (duração menor que 3 meses) ou crônicos (duração maior que 3 meses). Os principais sintomas incluem:
Revivência do evento (flashbacks);
Evitação;
Crises de pânico.
9 - Qual o curso e prognóstico do TEPT?
Geralmente apenas 30% dos pacientes com TEPT recuperam-se e tal prognóstico pode ser ainda pior nos extremos etários como crianças e idosos.
10 - Como é o tratamento do TEPT?
É importante que o clínico reconheça a possibilidade de desencadeamento do transtorno após o evento traumático pelo qual o paciente procura atendimento. Como há intensa descarga adrenérgica provocada pela ativação do sistema simpático após o trauma, é necessário um bloqueio a essa resposta central. Para tanto, são indicados o uso de benzodiazepínicos, B-bloqueadores e ISRS.
A abordagem adequada e precoce desse paciente pode prevenir que ocorra memória traumática do evento com descarga simpática ao ocorrer flashbacks.
Além do tratamento medicamentoso, é fundamental o encaminhamento a psicoterapia para o paciente desenvolver maneiras de lidar com o trauma vivido.
11 - Qual a epidemiologia do transtorno do pânico?
Ocorre em 1,5 a 3% da população, especialmente em mulheres e no início da idade adulta. O único fator social identificado como contribuindo para o desenvolvimento desse transtorno é história recente de divórcio ou separação.
12 - Qual a sintomatologia do transtorno de pânico?
Para considerar como transtorno de pânico e diferenciar de ataque de pânico, os sintomas devem ser consecutivos, espontâneos e terem duração aproximada de 20 a 30 minutos. Ocorre medo extremo, sensação de morte, palpitações, sudorese, taquicardia, tremores, dor ou desconforto torácico, náusea, dor abdominal, sensação de tontura, irritabilidade, calor, parestesias, desrealização, medo de perder o controle ou “enlouquecer”.
13 - O que é agorafobia?
Insegurança em frequentar locais públicos por medo de ter crise de pânico e não receber suporte ou tratamento.
14 - Qual o diagnóstico diferencial de transtorno de pânico?
É fundamental descartar condições clínicas que podem provocar sintomas semelhantes. Portanto, deve ser feito exame físico completo e, de acordo com a avaliação, exames complementares como eletrocardiograma e exames laboratoriais.
Ademais, deve-se investigar se os sintomas são desencadeados por algum fator específico, o que excluiria o diagnóstico de transtorno de pânico e levantaria a hipótese de fobia social ou fobia específica.
15 - Qual a fisiopatologia do transtorno de pânico?
Está identificada a necessidade de predisposição genética ao transtorno de pânico. História familiar positiva para o transtorno entre parentes de primeiro grau aumentam o risco em até 4 a 8 vezes. Além disso, estão associados: aumento do tônus simpático, atrofia cortical em lobo temporal direito (hipocampo) e fatores psicossociais.
16 - Qual o curso e prognóstico do transtorno de pânico?
A doença tende a ser crônica devido à predisposição genética e a exposição ao estresse. Contudo, se bem controlado com psicoterapia e psicofármacos, o paciente pode permanecer por anos sem apresentar episódio de crise de pânico.
17 - Qual o tratamento do transtorno de pânico?
É necessária uma resposta de tratamento rápida para o paciente. Nesse sentido, podem ser administrados os benzodiazepínicos, de preferência aqueles de alta potência como clonazepam, alprazolam, lorazepam. Dentre eles, a prescrição deve ser realizada com base na idade do paciente. Para pacientes idosos, benzodiazepínicos de meia vida curta são adequadamente indicados, como alprazolam, lorazepam, já em adultos jovens ou adolescentes pode ser prescrito fármaco de meia vida maior, como o clonazepam.
Antidepressivos, especialmente os de ação serotoninérgicas, devem ser associados ao tratamento. A primeira classe de escolhe é dos ISRS, mas também podem ser indicadas outras classes como os duais e os tricíclicos.
A psicoterapia é outra ferramenta terapêutica fundamental para manejo e controle do paciente.
18 - Qual a epidemiologia da fobia específica e da fobia social?
A fobia específica atinge cerca de 5 a 10% da população, podendo chegar a 25%. É o transtorno de ansiedade mais comum, especialmente em mulheres. Já a fobia social, tem menor prevalência com cerca de 3%
19 - Qual a etiologia das fobias?
Só desenvolve uma fobia específica ou social se houver predisposição orgânica, associada a fatores psicossociais. As representações negativas que o paciente apresenta sobre o objeto ou ação também estão relacionadas com a genética.
20 - Como é realizado o diagnóstico de fobia específica?
Identificação de medo excessivo e irracional de uma situação específica que provocam evitação e crises de ansiedade com a exposição ao objeto fóbico.
21 - Como é realizado o diagnóstico de fobia social?
Medo e temor acentuados de situações sociais e de desempenho, com crises de ansiedade e até de pânico. Ocorre medo de sair de casa, medo de ser ridicularizado, medo de ser abandonado e, geralmente, é um paciente com baixa autoestima e timidez excessiva.
22 - Qual o curso e prognóstico das fobias?
Como todo transtorno de ansiedade, as fobias tendem à cronificação devido à estrutura psíquica dos pacientes.
23 - Qual o tratamento das fobias?
Tratamento farmacológico com antidepressivo, de preferência da classe dos ISRS, devido a ação serotoninérgica e pode ser associado benzodiazepínico, especialmente no início do tratamento, para manejo da ansiedade em intervalo de tempo menor. Ademais, a psicoterapia tem importante papel para o paciente aprender a lidar com o fator fóbico e se adequar sobretudo no comportamento tímido e de baixa autoestima. Na fobia específica, pode ser realizada uma exposição gradual ao objeto ou situação fóbica permitindo que o paciente ganhe condições de conviver com esses medos irracionais que apresenta.
24 - Qual a epidemiologia do transtorno obsessivo compulsivo?
O transtorno obsessivo compulsivo (TOC) tem prevalência de 2 a 3% da população e difere dos outros transtornos de ansiedade porque apresenta proporção semelhante entre os sexos, podendo, inclusive, ter maior prevalência no sexo masculino. Atinge especialmente adolescentes e adultos jovens.
25 - Quais as comorbidades associadas ao TOC?
O TOC comumente está relacionado com outras comorbidades como: depressão, fobias, pânico, dependência química, transtornos alimentares.
26 - Qual a etiologia do TOC?
A predisposição genética deve estar presente aliada a fatores psicossociais, sobretudo a personalidade obsessiva compulsiva do paciente. Tal influência biológica é tão importante que o TOC é um dos transtornos psiquiátricos de maior carga genética, cerca de 35% dos pacientes apresentam familiar com história positiva para o mesmo transtorno. Os principais fatores orgânicos identificados incluem: alterações serotoninérgicas, colinérgicas, dopaminérgicas, aumento da atividade em lobos frontais, nos gânglios da base e no giro do cíngulo.
27 - Qual a sintomatologia do TOC?
As características do TOC são as obsessões ou compulsões que ocorrem de maneira recorrente causando um sofrimento significativo e interferindo no funcionamento normal do indivíduo.
As obsessões são ideias, pensamentos intrusivos que causam ansiedade, sem qualquer tipo de controle pelo paciente, as mais comuns são os pensamentos repetitivos em relação às ideias de contaminação, dúvidas, organização, impulsos agressivos e imagens sexuais.
As compulsões são os comportamentos rituais repetitivos com a finalidade de atenuar ou prevenir a ansiedade como: limpar, lavar, contar, verificar, solicitar, repetir ações e colocar objetos em ordem.
Ademais, outra característica que pode estar presente no paciente com TOC é o colecionismo patológico.
28 - Qual o curso e prognóstico do TOC?
O curso da doença é crônico, com exacerbações principalmente nos períodos mais estressantes da vida.
29 - Quais os principais diagnósticos diferenciais do TOC?
Condições clínicas;
Transtorno de Tourette;
Esquizofrenia;
Personalidade obsessiva;
Fobias;
Transtorno de impulso.
30 - Qual o tratamento do TOC?
O TOC tem importante ação serotoninérgica, por isso, os ISRS são fármacos adequadamente indicados para o tratamento do transtorno. Outras classes antidepressivas também podem ser prescritas, como os tricíclicos. Contudo, dentre eles, a clomipramina é o fármaco de maior destaque pois apresenta menor ação noradrenérgica e maior ação serotoninérgica quando comparada a outros fármacos da mesma classe. Antipsicóticos em dose baixa podem ser associados ao tratamento, devido à discreta ação dopaminérgica identificada no TOC.
Como todos os transtornos de ansiedade, a psicoterapia permite que o paciente aprenda a ter controle das compulsões e das obsessões.